sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Memórias da avó Lourdes - Como a avó Lourdes conheceu o avô Pinto

Memórias da avó Lourdes
15 de agosto de 2013, quinta-feira, em casa da Tia Fatinha, no Faial

Como a avó Lourdes conheceu o avô Pinto

            - “Sabes como é que eu conheci o teu pai?...” perguntou-me a avó quando estávamos a almoçar. Estávamos, naquela altura, calados num silêncio de pouca duração, tão simplesmente
atrás: Maria de Lourdes, Maria de Fátima, Manuel
à frente: Fernando Jorge, José Manuel
porque não se pode conversar enquanto de mastiga.
Eu sei como foi que esse primeiro contacto aconteceu, mas, como de costume, fiz o meu papel e respondi à avó que não, não senhora, não sabia.
- “Eu estava na costura, na costura de alfaiate, no Alexandre Paulo, e ele [o avô Pinto] foi lá para para fazer um fato [fato civil]… ele entrou, eu olhei para ele, depois voltei-me para as minhas colegas e disse-lhes assim baixinho: «Olhem, eu vou bater-me com este magala!...» Houve uma delas que se voltou para mim e disse em voz alta: «Capaz disso és tu, e muito mais!...» Lembro-me bem dele, era todo jovem, jeitosinho, o cabelo todo onduladinho…»”. A avó estava deliciada a relembrar esta ocasião que marcou definitivamente as suas vidas… e as nossas! – “Eu depois perguntei para elas: «Quem é este?...», e uma delas respondeu-me: «É o furriel Pinto». Eu então chamava-lhe «furrielzito» e, olha, se bem o disseste, melhor o fizeste." A avó estava deliciada! Mais deliciada com as memórias do que com a comida. – “Depois, quando começámos a ir aos bailes, eu dançava muito bem, melhor do que ele… eram sempre tempos bem passados, ao pé de mim nunca ninguém estava triste…”
- “Eu e as minhas irmãs gostávamos muito de ir aos bailes… era no Orfeu e no Sporting… Quem chegava cedo guardava lugar para as outras… Nunca levei sova de cadeira!... A minha irmã Rosinda nunca foi a um baile, ela foi namorada de um só homem… ele tinha saído da tropa e ela tinha 13 anos, treze!... A minha irmã Rosinda, coitadita, não se divertia nada. A minha irmã Beatriz também se prendeu muito cedo ao Titó… A minha irmã Deolinda namorou o Zé Camilo, o Zé ??????, foram muitos Zés, parece que ela tinha uma predilecção especial pelos Zés, e depois não casou com nenhum deles… Foi a que teve mais pretendentes, ela em nova era muito jeitosa e tinha uma coisa muito bem feita… Sabes o que era?...” “Não, dona Lourdes, não sei…” (mesmo que soubesse não diria à avó que sabia!...) Eram as pernas!... Ela tinha uma vaidade grande nas pernas...
A conversa ficou por aqui, alguma coisa apareceu a interromper a conversa. No dia seguinte, em jeito de remate à conversa interrompida, e também à hora do almoço, a avó Lourdes continuou: - “O velhote [o avô Branco] em Abrantes tinha fama de ser mau, mas era muito honesto, todos o respeitavam muito porque sabiam como ele era… Pensas que ele respeitava as freiras no Colégio Nossa Senhora de Fátima?  Pois sim!... Mas elas todas adoravam o senhor António!... Eu não tinha nenhum medo do meu pai, era a única que brincava com ele… O meu pai gostava muito do teu pai, mas o teu pai tinha-lhe muito respeito, só entrou lá em casa já depois de casarmos… Lembro-me que uma vez estávamos a namorar à porta de casa, o meu pai chegou, viu-nos ali chegadinhos um ao outro e perguntou-nos: «Querem o meu capote?». O meu pai tinha um capote grande, sempre teve… Eu não me atrapalhei nada com ele e respondei-lhe: «Não, não é preciso, se a gente tiver frio a gente aquece-se um ao outro!... «Lá descarada és tu!» disse o meu pai, mas foi para dentro bem-disposto e deixou-nos ficar ali à vontade… Outra vez, quando passou por nós, nós estávamos a cantar – é até por isso que ele lhe pôs [ao avô Pinto] o nome do Rapsódia – e ele perguntou: «Mas vocês estão sempre a cantar?...» e eu respondi-lhe logo a rir-me: «Mas quer que a gente se ponha a fazer outras coisas?...»
E o avô Branco lá se resignou e lhe deu a mesma resposta do capote. Como podem ver, meus queridos sobrinhos, não é só os netos que a avó deixa desarmados com as suas respostas; a avó já traz muito treino dos tempos do avô Branco, o seu próprio pai!

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