quinta-feira, 10 de julho de 2014

Sophia de Mello Breyner Andresen e a ideia de deus

Mais do que lamentar terem levado Sophia para o Panteão Nacional, lamento a própria ideia de Panteão, e nem é tanto pelos que lá se põem: todos eles - mas todos mesmo! - são de opção discutível. São, os "heróis" que lá estão, sempre, produtos de valorizações circunstanciais - mesmo os mais consensuais. Muito mais pelos que lá se põem, trata-se da segura injustiça que se comete sobre os que lá não se põem e poderiam ter acesso a ele. Por isso, por mim, abaixo com a ideia de Panteão! Aos mortos que lá estão desejo o sossego que o que resta fisicamente e espiritualmente das pessoas que foram merece. Que tenham o respeitoso e carinhoso descanso que todo o ser que foi vivo merece - voltar à terra de onde veio.
Na interrogação teológica essencial que, se calhar, um dia todos nos pomos a nós mesmos, Sophia um dia escreveu assim:

Escuto mas não sei
Se o que ouço é silêncio
Ou deus
Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita
Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

Mas que belo poema!

terça-feira, 1 de julho de 2014

Como podemos viver sem sonhos?...

http://vimeo.com/66331618
Nos campos de refugiados palestinianos há um rapazinho que tem um sonho: ver o Mediterrâneo. Os israelitas não deixam.
"O meu país é um sonho. Como podemos viver sem sonhos?... Chamo-me Tamer e tenho 11 anos. O meu sonho é ir ver o Mediterrâneo."
O pai de Tamer tenta educar o filho nos princípios da tolerância. Tem medo que ele um dia possa tornar-se num mártir. Quando mais uma vez os israelitas lhe negam a autorização para ir ver o mar, o pai desabafa:
- "Eu não quero destruir Israel, eu não quero destruir a América, eu não quero matar, eu só quero ir ver o Mediterrâneo..."
Acabei de ver na TVI24 um extraordinário documentário titulado "Nasci refugiado". Foi de lá que tirei o pequeno excerto.
Há poucas horas, o companheiro com quem eu tinha acabado de partilhar, já de tarde, uma incursão em livros amontoados, tornados de segunda ou terceira importância, trouxe para o seu mural no Facebook a fotografia de uma página de livro em que destaca a afirmação "As guerras começam no coração dos homens".
Lembrei-me da liberdade de um outro rapazinho, tuaregue, que um dia perguntou ao seu pai: "Pai, como é o mar?..."
Escrevi, há pouco mais de um ano, um pequeno apontamento sobre esta outra criança aqui.