domingo, 28 de setembro de 2014

Sobre a importância de andar à procura de nada – parte 1/2

Sobre a importância de andar à procura de nada – parte 1/2

Passei a sair aos domingos, com frequência, à procura de nada. Normalmente, faço-o de manhã. Não tenho crianças que me obriguem a dedicar-me a elas na manhã do dia santo da semana. Com o meu pai, no meu tempo, não sei se me aborreceria com ele se ele não dedicasse as suas manhãs de domingo aos filhos pequenos. E ele sempre o fez com evidente prazer.

A “culpa” da minha recente ocupação domingueira é das chamadas ""grandes superfícies" comerciais. Em vez de ir intencionalmente a uma exposição ou a um evento, vou ao Continente do Vasco da Gama, ou vou os Pingo Doce do Spacio dos Olivais, à procura de nada. A competição pelos clientes traz, por vezes, nas grandes superfícies comerciais, preços muito atractivos de comidas, bebidas, roupas, coisas para a casa, livros, etc.

Então, é assim: não tenho nada para comprar, mas vou à grande superfície, pode ser que encontre lá alguma coisa interessante a bom preço. Por exemplo, na semana passada encontrei um livro, que eu não sabia sequer que existia, a 5 euros! Folheei… revirei a capa, e nela encontrei uma apreciação muito breve, em uma linha só, do professor Marcelo Rebelo de Sousa; voltei a folhear, e conclui que a apreciação do professor Marcelo Rebelo de Sousa é mesmo muito pobre, parece-me ser feita a despachar, por boa educação.

Volto para casa, e começo logo a leitura do livro no Metro. Eh, pá!... O livro é mesmo muito bom, constato eu logo ao final do dia! 2 ou 3 dias depois, volto ao Continente do Vasco da Gama. Restavam lá 4 exemplares, ainda a 5 euros cada um, trouxe-os todos comigo. Todos eles terão dono.

Hoje tornei ao Continente, à mesma banca dos livros a 5 euros – já nenhum para venda; talvez amanhã, a partir do final da tarde, haja reposição, diz-me solicitamente uma funcionária. Agradeci a informação e vim de lá não trazendo nada, nem da secção dos livros, de qualquer outra secção da grande superfície. Mas estou decidido a voltar ao Continente amanhã ao final da tarde.

Quando me vinha embora, já de lado de fora da grande loja, reparo que um velho colega de trabalho, e amigo, estava a acabar de pôr nos sacos as compras; a mulher estava com ele. Afastei-me discretamente, para não ser por ele reconhecido, e disposto a meter-me com ele, de surpresa. Depois de um grande rodeio, cheguei-me por trás dele e tirei-lhe do carro dois sacos de compras sem o deixar ver-me a cara e afastei-me. Ouvi-o a balbuciar qualquer coisa, e antes que ele viesse atrás de mim e me desse algum tabefe, voltei-me para trás e devolvi-lhe os sacos.

Risos, abraços, e conversa em dia; depois, cada um para seu lado. Já a chegar à zona da Gare do Oriente, lamentei-me de não lhe pedir o email ou o número de telemóvel, para actualizar o contacto. Ainda não tinha acabado a auto-censura, já me cruzava com outro velho amigo que não via há bastante tempo. Mais risos e abraços, e conversámos sobre outro velho amigo comum, que foi há pouco tempo trabalhar para Londres.

Enquanto estava à conversa com o segundo amigo reencontrado, vi vir na direcção da Gare o amigo do primeiro encontro, que, antes, quando nos despedimos, tinha tomado o caminho oposto ao meu. Vinha mesmo a ver se ainda me encontrava, para trocarmos contactos actuais!

É assim que pode acontecer quando não se pensa demasiadamente: sai-se de casa por nada, à procura de um hipotético preço mais baixo e volta-se para casa com coisas que valem muito e não têm preço.

(fim de “A importância de andar à procura de nada – parte 1/2; depois virá a parte 2/2)

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