quinta-feira, 10 de julho de 2014

Sophia de Mello Breyner Andresen e a ideia de deus

Mais do que lamentar terem levado Sophia para o Panteão Nacional, lamento a própria ideia de Panteão, e nem é tanto pelos que lá se põem: todos eles - mas todos mesmo! - são de opção discutível. São, os "heróis" que lá estão, sempre, produtos de valorizações circunstanciais - mesmo os mais consensuais. Muito mais pelos que lá se põem, trata-se da segura injustiça que se comete sobre os que lá não se põem e poderiam ter acesso a ele. Por isso, por mim, abaixo com a ideia de Panteão! Aos mortos que lá estão desejo o sossego que o que resta fisicamente e espiritualmente das pessoas que foram merece. Que tenham o respeitoso e carinhoso descanso que todo o ser que foi vivo merece - voltar à terra de onde veio.
Na interrogação teológica essencial que, se calhar, um dia todos nos pomos a nós mesmos, Sophia um dia escreveu assim:

Escuto mas não sei
Se o que ouço é silêncio
Ou deus
Escuto sem saber se estou ouvindo
O ressoar das planícies do vazio
Ou a consciência atenta
Que nos confins do universo
Me decifra e fita
Apenas sei que caminho como quem
É olhado amado e conhecido
E por isso em cada gesto ponho
Solenidade e risco

Mas que belo poema!

Sem comentários:

Enviar um comentário