domingo, 26 de março de 2023

Não bastam os afectos positivos para respeitar as diferenças culturais

Eu montado num cavalo, com o meu tio-avô Petrus
 Muito menos a boa fé ou as boas intenções. De boas intenções está o inferno cheio, não é verdade?

Estou a gostar muito de ler o "Como Aprendi a Compreender o Mundo", de Hans Rosling. O excerto que a seguir transcrevo refere-se a uma ocorrência no final dos anos 50 do século XX, na Suécia.

Graças às nossas poupanças, ao fim de alguns anos na nossa nova casa, pudemos fazer férias em família. Os meus pais compraram uma lambreta vermelha e uma bicicleta tandem azul, e a minha mãe fez uma tenda. Na primeira vez, andámos pelo condado de Uppland e nunca nos afastamos mais de uma centena de quilómetros da nossa casa. Acabamos por visitar os dois irmãos solteiros da avó Agnes, que viviam juntos na quinta da família e nos receberam calorosamente.

Fui autorizado a montar em pelo o grande cavalo deles, conduzido por Petrus, o irmão mais velho. Quando o meu pai me fotografou a cavalo, mostrou um choque de culturas. Ele achava que era uma fotografia particularmente bem conseguida: o enorme cavalo da quinta com o rapaz da cidade no dorso, ao lado do velho agricultor com as suas botas altas.

O meu pai enviou uma cópia da fotografia a Petrus, para lhe agradecer a hospitalidade que ele manifestara. Não foi bem recebida. Petrus ficou ofendido, porque a fotografia o mostrava com as suas jardineiras e botas. Se era para ser fotografado, seria apenas quando vestisse o seu único fato escuro. Se as pessoas da cidade tiravam fotografias dele com as suas roupas de trabalho, só podiam querer troçar do seu familiar campónio. Os meus pais acabaram por resolver o conflito, mas demorou-lhes quase dois anos. Serviu para nos lembrar que devemos sempre respeitar as diferenças culturais. Petrus era um homem sensato e amável, e isso tornou a lição ainda mais eficaz.

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