Acabei de escrever assim no Facebook:
Na nossa família, fosse no círculo mais estreito da relações entre pai, mãe e os três filhos; fosse na família mais alargada, era frequente o meu pai provocar a minha mãe com a "acusação", desdenhosa, de que ela era pegacha. A minha mãe reagia com protesto vivo, exuberante.Esta disputa no casal era sempre sinal de boa disposição, contagiante a todos que estavam à volta do casal. Tornou-se claramente um marco da cultura familiar, que não foi esquecida em 2004, quando os filhos dedicaram aos pais uma linda festa de celebração das suas bodas de ouro.
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A minha mãe é a segunda jovem costureira, de sorriso matreiro, da
esquerda para a direita na fotografia, que foi tirada nos inícios dos anos 50 do século XX. |
Hoje, estávamos (a minha mãe, a D. Luísa e eu) ao jantar, na casa da filha Maria de Fátima, lar que é uma das mais genuínas versões atuais do Solar das Azeiteiras (o mítico lugar de encontro da alegre Pintalhada), na Horta, no Faial. A televisão estava ligada e o telejornal passava uma notícia sobre Mação, que é da área geográfica das vivências, dos afetos e das memórias abrantinas da família. A "Dona Lourdes" captou a referência a Mação; eu aproveitei para a provocar: perguntei-lhe se ela, como era pegacha, tinha ido muitas vezes do Pego a Mação.
É claro que o efeito foi diferente do que havia no jogo que ela jogava com o seu parceiro de vida, com nuances, rituais e cumplicidades que só eles conheciam e sabiam saborear. Espantosamente, e deixando-me imensamente contente por constatar uma notável agilidade mental - e humor, muito humor! - a sempre negada pegacha olha-me bem nos olhos e com ar bem divertido, dando a volta por cima (porque sabia que eu a queria ver perder o controlo e "irritar-se" como fazia em saborosos tempos idos, com o seu maridinho), recita-me a quadra... que eu nunca lhe tinha ouvido! Nem sei se os meus irmãos alguma vez a ouviram!...
Mas não deixou de rematar, com o dedo indicador direito a exibir uma firme negativa: "Mas eu não sou pegacha!"
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